Saturday, April 08, 2006


Vermelho Sol de Canudos
(publicados em 2006, edição do autor)
Caro Leitor
Escrever sobre Canudos foi para mim um mergulho no passado. Um mergulho na história do meu povo e em seus dramas latifundiários, o Conselheiro e seus sequazes, a pobreza, os sonhos, meu avô que nascera na seca das caatingas, no sertão de Quixeramobim de onde também nascera Antônio Maciel – O Conselheiro. Rui Facó a quem dedico uma epígrafe (historiador e sociólogo, falecido em um trágico desastre aéreo em 1963), por onde meus olhos percorreram as entrelinhas do seu livro “Cangaceiros e Fanáticos”, nos diz: “Quando o Conselheiro apareceu pela primeira vez no interior da Bahia, em 1876 – vinte anos antes de Canudos! – depois de ter percorrido outras províncias cujas populações viviam na mais completa miséria, não era um simples profeta a apregoar o fim do mundo. Era um homem que trabalhava, tinha uma profissão definida, a de pedreiro (...). Sua eloqüência primária atingia a mais indiferente alma cândida das populações sertanejas, e assim ele arrebatava a influência católica e das próprias autoridades locais”.
E é nesse drama que tento redescobrir Canudos na voz de uma criança onde iremos lembrar de Os Sertões de Euclides da Cunha e de suas últimas páginas, dos últimos sobreviventes: “Caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, morreram todos. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” Pois é esta Criança que feito um titã, porém roto e pobre que vê e descreve Canudos e seu massacre por entre a cruz e as rezas do Conselheiro. Eu apenas sou um fio que canaliza seus versos curtos, intimistas e sem muitas pretensões. Eu, apenas, sintetizo essa terrível história encontrada nas ramificações do inconsciente coletivo do homem do Sol, da caatinga do homem do sertão nordestino que daqui saiu para construir o Brasil. Eu, repito, apenas sintetizo canalizando tais poemas, assim como ele, sem muitas pretensões. Se é que me entendem.

José Leite Netto